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Artigo publicado na edição nº 11 de junho de 2006.
A família do Sion:
Memórias de mulheres católicas

Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti

Recordar é acordar a memória
Maria da Conceição Jardim, ex-aluna de Sion.

O percurso da memória: povoando o passado

As minhas lembranças não datam de tão longe. São velhas, porém, são velhíssimas, dirão as pessoas de hoje. Concordo que o sejam. Parecem-me, por vezes, de ontem, tão frescas, vivas e buliçosas se conservaram, imorredouramente, em mim. Tenho por elas o carinho emocionado da criança pelos seus bonecos. São os brinquedos da minha saudade ... O meu velho Sion ... Não sei se todas o verão como eu o via. Sei, porém, quando, no desencanto e na experiência da minha maturidade, uma onda maior de ceticismo e de amargor ameaça submergir-me toda crença e toda esperança, é para a capelinha deste passado Sion, agora mudado, transformado, engrandecido e modernizado, que, insensivelmente, me volto. (...) Um perfume de incenso erra no ar, as flores do altar se esbatem numa penumbra cheia de unção, no alto, a Virgem de Sion apruma o vulto claro sobre as procelas do mundo. IN SION FIRMATA SUM. Crer. Esperar. Amar. Foi de ontem. É de hoje ainda. Será de sempre. (CELSO, p. 100)

Invocações que parecem recentes pertencem, de fato, a tempos muito velhos. Lembranças de dias antigos se misturam inapelavelmente nos acontecimentos de ontem, de hoje, até mesmo nos de amanhã. Que tempos são esses, os tempos da memória?

Nas reminiscências de Maria Eugênia Celso fazem-se presentes tempos de melancolia, outros de promessas que não se cumpriram, assim como se revelam, ainda, duradouros laços de uma relação familiar intensa, criada entre os membros do Colégio Sion, em São Paulo. Tudo parece interligar múltiplas temporalidades: passado, presente e futuro. A representação individual se ancora em construções de uma memória mais ampla, expressas pelas meninas que freqüentaram este ambiente educacional e, posteriormente, retornam no imaginário com lembranças saudosas - “os brinquedos da minha saudade” - dos tempos passados, povoados da cumplicidade, das relações imbricadas a cada instante dentro daquele universo.

A autora tece a urdidura da memória carregando-a de condicionais, de tempos pretéritos que se entrelaçam, confusa ainda sobre seu papel neste mundo novo que se descortinava através dos ensinamentos cristãos, do perfume de santidade que envolve a Virgem Maria, modelo de Mãe, de mulher, de fé e de resignação para as jovens a quem a Fé (“crer”), a Esperança (“esperar”) e o “amor”, traduzido pela Caridade, têm a eternidade sacralizada do dogma: “Foi ontem. É de hoje ainda. Será de sempre”, numa certeza feita de esperanças de que o mundo fora do Colégio seja tão aninhador e tão disciplinado como o recôndito silêncio da “capelinha” do “meu velho Sion”. A experiência feminina que mal começa a se constituir através de furtivos clarões naquele claustro de saber escolástico é prenhe de questionamentos.

Ao selecionar e recuperar algumas memórias e tentar apreender instantes de tempos vividos nos interiores do Sion, captando o evento, fundindo os horizontes (meu e das memorialistas), numa experiência hermenêutica de reconstrução histórica, valho-me de referenciais metodológicos de amplo espectro, uma vez que a própria temática assim o exige, sem delimitações por esta ou aquela tendência historiográfica, acolhendo idéias assim como colho lembranças, utilizando os métodos mais compatíveis com as fontes que se entrelaçam neste estudo.

Num contexto em que a educação mostra-se como uma forma de distinção ou meio de ascensão social, um dos instrumentos privilegiados que utilizo para dialogar com as representações é a memória, “propriedade de conservar certas informações” (LE GOFF, 1984, p.11). Lembrar direciona o olhar, o sentimento, a razão, além de ser responsável pela atualização de experiências vividas, de impressões, de informações passadas.

A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos... A história é a reconstrução sempre problemática e incompleta do que não existe mais. A memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente; a história, uma representação do passado. Porque é afetiva e mágica, a memória não se acomoda a detalhes que a confortam; se alimenta de lembranças vagas, telescópicas, globais ou flutuantes, particulares ou simbólicas, sensível a todas as transferências, cenas, censura ou projeções. A história, porque operação intelectual e laicizante, demanda análise e discurso crítico. A memória instala a lembrança no sagrado, a história a liberta, e a torna prosaica. (NORA, 1993, p. 9)

Recobrando as memórias das personagens sionenses que preservaram os “restos selecionados” de um passado que vivenciaram, emprestando valor a fatos que em outro contexto seriam meros acontecimentos triviais, reconstruindo momentos que marcaram vidas, escutando os sons que povoaram os silêncios do senhorial casarão da Avenida Higienópolis, onde estiveram presentes ao longo de quase um século de atividades e benfeitorias oferecidas pelas religiosas à comunidade paulistana, é possível descortinar a própria urdidura da história movediça da cidade em um momento de tensões sociais. A mesma cidade - espaço de valores e posturas mais burguesas - que separou ideologicamente os papéis sociais em apropriadamente masculinos e femininos, prescreveu deveres às mulheres de modo a confiná-las em esferas específicas de atuação conveniente: o lar, a família.

Lembranças, sejam elas femininas ou masculinas, que no crivo do sujeito memorizador mereceram ser preservadas são, antes de mais nada, vivências selecionadas, ou seja, uma escolha pessoal do que vai ser lembrado e esquecido. Conforme indicou Moses Finley, preservar e transmitir lembranças não é um ato “espontâneo e inconsciente, e sim deliberado, com a intenção de servir a um fim conhecido pelo homem que o executa". O resgate da memória trabalha com as possibilidades de que os dados "individuais da tradição eram confundidos, modificados e, às vezes, inventados (...). E, quando a tradição é inteiramente oral, torna-se bem mais simples confundir e falsificar. Na realidade, isso é inevitável". [*1]

A memória é saturada de construções imaginárias e de projeções de "ego"[*2] que na maioria das vezes não se coadunam com a “veracidade” dos fatos, embora postule um compromisso com o que de fato aconteceu.

Lembrar implica um duplo movimento, conforme escreveu Marina Maluf:

(...) acionar a memória para recapturar o passado e selecionar os eventos vividos. (...) Além disso, o ato pessoal de pensar o passado - de contar uma vida - está enganchado na trama coletiva da existência social. E a memória pessoal transforma-se em fonte histórica justamente porque o indivíduo está impregnado de elementos que ultrapassam os limites de seu próprio corpo e que dizem respeito aos conteúdos comuns dos grupos ao qual pertencem ou pertenceu. (MALUF, 1995, p. 82)

No corpo documental pesquisado, manifesta-se a preocupação com o lembrar, tornar presentes os momentos que grifaram as experiências cotidianas daquelas moças que, resguardadas pelos muros de pedra do colégio, preparavam-se para a vida iniciando-se no desempenho dos papéis sociais a elas destinados, trocando confidências, armazenando no baú das recordações os fatos que, assumindo cores de um passado feliz e descompromissado, seriam muitas vezes transmitidos às suas filhas e netas, revivendo-os como reviviam a juventude perdida, as tranças infantis substituídas pelo outono nos cabelos e nas almas, a segurança do Colégio trocada pelas incertezas do mundo “moderno”, modo como se referiam as meninas aos novos tempos. Maria Eugenia Celso ao regressar ao “velho Sion”, afirma não saber “se todas o verão como eu via”, indicando um certo saudosismo e a possível dúvida com relação aos ensinamentos apreendidos.

Um outro aspecto da memória coletiva deste grupo é o fato de, regularmente, utilizarem o plural para fazerem referências ao passado comum - “(...) O nosso coração se enche de entusiasmo e alegria...” e ao ”tempo feliz de nossa adolescência estudiosa” -, como se isto justificasse a aplicação de normas, de costumes, do dever ser homogeneizador para estas mulheres em formação. Vitória Helena de C. Ramos, antiga aluna, me permite adentrar nos tempos colegiais:

Preciosas horas felizes... O nosso coração se enche de entusiasmo e de alegria, na certeza de que em breve, terminado o nosso curso, na dispersão inevitável de colegas que cresceram, estudaram, e viveram juntas tantos annos, a amizade dos bancos do colégio há de perdurar e iluminar a nossa estrada.

Ao encerrar, recomenda às parceiras:

guardaremos, como as antigas, recordação indelével do tempo feliz de nossa adolescência estudiosa; assim, traremos um dia as nossas filhas, para continuarem a cadeia ininterrupta, que liga a Sion cincoenta gerações de brasileiras. (RAMOS, p. 134)

Para criar essa idéia de continuidade - “cadeia ininterrupta” - e perseverança das ideologias vigentes (ou que se queriam implantar), era necessário construir aparatos disciplinares que visavam “não unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar sua sujeição”, mas a formação de uma relação de obediência. O ambiente escolar é um dos espaços privilegiados onde a disciplina encontra lugar fértil para o seu desenvolvimento. Como exemplo disto, está a própria educação cristã, repleta de regulamentos, inspeções e vigilâncias elaboradas para serem divulgadas dentro das “cercas” dos colégios e dos conventos, “lugares determinados que se definem para satisfazer não só à necessidade de vigiar, de romper as comunicações perigosas, mas também de criar um espaço útil” (FOUCAULT, 2005, p. 126-8).

As questões de ordem, disciplina e higiene estavam presentes já no momento da admissão das alunas nos cursos ginasianos, quando então se ditavam regras a serem obedecidas. No “Regimento Interno” aparece a efetivação destes ideais:

[o Colégio] admite alunas internas e semi-internas. Não recebe:
a) portadoras de moléstias contagiosas ou infecto-contagiosas.
b) alunas que necessitam de tratamentos especiais em consultórios médicos ou dentários que obriguem a saídas freqüentes ou prolongadas que prejudiquem os estudos.

Quanto à disciplina, observam-se as seguintes prescrições:

A Diretoria e os Professores envidam esforços para que no Estabelecimento reine boa disciplina, condição indispensável para o desenvolvimento moral e intelectual das alunas. Esta Disciplina será sempre revestida de carinho, levando as educandas ao cumprimento do dever pela persuasão. (...) Para o bom êxito dos seus esforços a Diretoria procura obter uma intensa e inteligente colaboração com os Srs Pais (Regimento Interno. 9 de novembro de 1940, fls. ½).

Era importante estabelecer “as presenças e as ausências, saber onde e como encontrar os indivíduos, instaurar as comunicações úteis, interromper as outras, poder a cada instante vigiar o comportamento de cada um, apreciá-lo, sancioná-lo, medir as qualidades ou os méritos” (FOUCAULT, 2005, p. 126-131). Não é por acaso que, nas horas livres, as alunas de Sion estivessem sempre sob os olhares vigilantes e atentos das religiosas.

Era o sistema pedagógico criador de uma mentalidade nova, misto de disciplina e de afeto, tão absolutamente oportuno à nossa desordenada imprevidência e à prodigalidade excessiva de confiança de um povo jovem, a maneira direta de falar aos corações, de abri-los, de conhecê-los, de, principalmente, neles inocular os princípios das virtudes imprescindíveis. (GONÇALVES, p. 152)

Contudo, os tempos de disciplinar as mentes e os corpos femininos não se restringiam aos momentos de lazer onde os movimentos e ações, aparentemente, estivessem livres. O dia, as horas, os minutos estavam organizados de maneira a manter a ordem e a disciplina. Deste modo, as normas da Igreja (que asseguravam a formação das “mulheres católicas” e das “boas cidadãs”) estariam em vigor continuamente. “O sino supria o relógio. Era pela sua advertência que, automaticamente, se regulava o mecanismo do Colégio: aulas, recreios, estudos, preces, refeições. Havia momentos em que a gente lhe odiava a injunção, outros, em que o seu bater representava uma libertação, ansiosamente, esperada” (CELSO, p. 124).

A arte de dispor em fila dá início, já no século XVIII, à delimitação de espaços e às demarcações dos papéis cabíveis a cada indivíduo dentro dos ambientes escolares. “Filas de alunos na sala, nos corredores, nos pátios; colocação atribuída a cada um em relação a cada tarefa e cada prova; colocação que ele obtém, de ano em ano; alinhamento das classes de idade umas depois das outras; sucessão dos assuntos ensinados, das questões tratadas seguindo uma ordem de dificuldade crescente” (FOUCAULT, 2005, p. 134). Os dados apresentados por M. Foucault para o estudo de instituições do século XVIII apontam alguns elementos ainda vivos nas memórias das “enfants de Sion”, como é o caso de Lavínia Camargo, ex-aluna da turma iniciada em 1929, que relata:

Ao acordar, tínhamos uma série de obrigações e às 7:30 hrs deveríamos estar em fila na entrada do grandioso refeitório para a inspeção matinal. Era nessa hora que se observava, atentamente, a higiene, o asseio, o esmero dos uniformes e a ordem das meninas ... as que cumpriam suas obrigações, sempre eram mencionadas com distinção, servindo de exemplo às desordeiras e indisciplinadas (Depoimento de Lavínia Ribeiro do Valle de Camargo. São Paulo, abril de 1995).

Vida-missão: a construção de perfis e modelos familiares

Ao lado da idéia de “vida-missão”, corre a noção de “pertencer a”, ou seja, de que a moça educada em um colégio congregacional faz parte de um grupo privilegiado de pessoas, encarregadas da transmissão e preservação de valores, crenças, regras, e até mesmo de uma certa cumplicidade juvenil que, como fio colorido retece as memórias, dando a elas uma semelhança de colcha de retalhos, momentos gravados no tempo que cumpre preservar do desgaste que o mundo fatalmente lhes imporá. É assim como se as “classes multicores” fossem confrarias de jovens, formadas pelos mesmos padrões, vivenciando as mesmas ansiedades, trocando experiências e segredos que as irmanavam para sempre.

Em um trecho do “Caderno de Poesias”, datado de 1942, a ex-aluna Benedita Mendes Vieira, menciona um almoço ocorrido no aniversário da formatura da Classe Multicor de 1927; a seriação do Colégio Sion estava nomeada por cores e a classe referida correspondia ao último ano do ginásio. Neste informe, a autora elenca saudosamente todas as convidadas que estiveram presentes à reunião: Alices, Lúcias, Edites, Lauras, Camilas, entre tantas outras, que “não pode por deficiência de espaço, mencionar”, fazem parte desta imagem produzida num momento de “belas recordações”.

(...) Dia de história inesquecível! História bonita para contar à lareira, quando caírem sobre as meninas de Sion de hoje, as primeiras geadas do inverno. Quando saí, à luz doirada da tarde, pareceu-me notar que na fronteira do colégio, em seu nicho de pedra, morena pelo tempo, N.S. de Sion sorria satisfeita por ver de volta ao ninho antigo, como andorinhas aos beirais, tantas ‘florinhas’ que o vento forte da vida soprara para longe!.

A função de transmitir experiências felizes está introjetada, indicando um acolhimento de um dos papéis que cabia à mulher - propagadora da missão católica e provedora do núcleo fundamental da vida feminina: a família, unidade sacralizada pela Igreja Católica. Apesar de muitas vezes afastada da grande família sionense pelo “vento forte da vida”, suas filhas retornam “ao ninho antigo” nos momentos de aflição e de alegrias para renovar ou firmar as normas por tantos anos ensinadas.

A proposta de manter a identidade das alunas através de suas reminiscências é demonstrada na preocupação de mantê-las sem que mudanças de qualquer tipo pudessem abalar seus sólidos referenciais. Isto pode ser percebido nas interlocuções entre as meninas principalmente nas deixadas sob forma de cartas e diários dos tempos escolares que descrevem “os dias saudosos vividos sob o teto acolhedor de Sion...”[*3] aclamado como espaço de segurança, local de proteção e refúgio dos males que afligem o “mundo moderno”. Afinal, era necessário manter “o verdadeiro alento na formação da Congregação das Mães Cristãs, regeneradoras da família católica”, além do empenho e dedicação assíduos para “cultivar as almas e os corações das moças, reunidas na Congregação das Filhas de Maria” (NATUZZI, p. 45).

Natureza e Cultura: a memória implantada e coletivizada

A lembrança atinge outros sentidos: o olfato desencadeia um relembrar de missas, quando o incenso elevava “os corações ao alto” ao som de “tantun ergun sacramentun”; lembra ainda os passeios feitos a Atibaia ou Petrópolis, o cheiro da comida enfeitiçando os solenes refeitórios onde a “soeur” leitora, monotonamente, recitava uma edificante vida de santo ou passagem bíblica; lembra o chocolate quente nas manhãs de inverno; o cheiro dos corpos jovens, a “martinha” ajoelhada limpando os imensos corredores da memória, substituindo os odores da vida pelos do “sagrado” higienizado, lembrando velas acesas que tentam iluminar os caminhos para os céus para aquelas que teimavam em viver na terra.

“Momentos que ficarão perfumando o resto da vida, indiferentes ao desmoronar de todos os outros sonhos” (Ecos do Sion, n. 15, julho de 1936, p. 14). Estas recordações não são simplesmente partes integrantes de um passado, mas comportam “símbolos da família, dos laços de descendência, que podem ser transmitidos como bens que contem uma história”. Os valores e as virtudes apreendidas na formação sionense foram constantemente evocados nas lembranças: Sion é a representação ideal de família, da família do espírito, “aquela cujos liames, por mais sutis, não deixam por isso de ser menos profundos e correspondentes a um sentimento mais arraigado e mais contentemente nosso ... É mais que um laço de sangue, a explicar tendências similares e mais ou menos niveladoras. É o ambiente que ultrapassa as aspirações do indivíduo e em que encontram clima os anseios da personalidade, na diferenciadora capacidade de ascensão e na possibilidade de ser cada vez mais, num sentido de nobreza e de suprema dignidade humana” (GONÇALVES, p. 151).

Nesta proposta de estruturar uma família, o papel singular e paradigmático da “Mãe” é representado por “Notre Mère”. Rememorado o cotidiano das classes repletas de jovens, tementes quando “tocava a sineta de oito horas, entravamos para as classes, e, feita a oração, ouvíamos o seu passo surdo e pesado, nas galerias. Vinha em cada classe, tomava conhecimento das notas diárias de procedimento e de aplicação. Depois, uma palavra enérgica de advertência às cabecinhas turbulentas, que andavam fora da lei; lindas palavras de animação às que trilhavam o caminho do dever. A mère, para nós, era uma força eterna” (BICALHO, p. 50).

No âmbito da constituição da cidadania, a vigilância também aparecia com freqüência. Consoante Sampaio Dória, para ser um “bom cidadão” era fundamental estar atento às leis, às regras organizadoras da sociedade. Por isto a escola, considerada uma “espécie de república em miniatura”, devia instruir seus alunos para que, “ao deixarem aquela, encontrassem, na vida pública, uma ampliação daquillo a que se habituaram”, “um pequeno grande mundo” que deveria ser assim como um ensaio geral para se introduzirem - as moças - no mundo real e desprotegido da sociedade, onde deveriam viver aplicando, na vida cotidiana, os ensinamentos recebidos.

Bibliografia

BICALHO, Madalena Lacerda. “Notre Mere Angelina”. Reminiscências, vol. 1.
CELSO, Maria Eugenia. Reminiscências, São Paulo, vol. 2.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: História da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes, 2005.
GONÇALVES, Suzana. Fidelidade. Reminiscências. vol. 2.
LE GOFF, Jacques. “Memória”. In: Enciclopédia Einaudi. 1. Memória - História. Lisboa: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1984.
MALUF, Marina. Ruídos da Memória. São Paulo: Siciliano, 1995.
NATUZZI, J. Monsenhor Macedo Costa. Reminiscências, vol. 1.
NORA, Pierre. “Entre memória e História: a problemática dos lugares”. In: Projeto História, n.10. São Paulo, PUC-SP, dez. 1993.
RAMOS, Vitória Helena de C. Reminiscências, vol. 2.
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Doutora em História pela Universidade de Leon, Espanha. Mestre em História pela PUC/SP. Professora e pesquisadora do Mestrado em Família na Sociedade Contemporânea da Universidade Católica do Salvador. Membro da ANPUH e da Society of Latin American Studies.
FINLEY, Moses I. Uso e Abuso da História. São Paulo, Martins Fontes, 1989, p. 21 e 23. Ver também THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro, Paz & Terra, 2002.
Sobre a Ego-história Ver DEKKER, Rudolf M. Ego-Documents in the Netherlands 1500-1814. In: Dutch Crossing. A Journal of Low Countries Studies, n. 39, 1989; DUBY, Georges. A Vida Continua. Rio de Janeiro, Zahar/UFRJ, 2003; PERROT, Michelle. Entrevista. Projeto História, n. 10, dez. 1993; HOBSBAWN, Eric. A Era dos Extremos. São Paulo, Cia das Letras, 2005.
Carta Pessoal de Benedita Mendes Vieira a Camilla Barbosa de Oliveira. São Paulo, 20 de janeiro de 1942 (manuscrito - Arquivo do Colégio Sion).