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Artigo publicado na edição nº 32 de agosto de 2008.
“Artes Mecânicas” em Vila Rica setecentista:
os pardos forros e livres

Daniel Precioso

O projeto de construção e ornamentação da capela de São José

A Confraria de S. José dos Bem Casados dos Homens Pardos de Vila Rica foi erigida em meados da década de 1720 na Paróquia de Antônio Dias, sendo transferida, posteriormente, para a de Nossa Senhora do Pilar[*1] provavelmente em virtude da doação de um lote de terras no morro de São Sebastião feita pelo Senado da Câmara. Em 1726, os devotos do “Gloriozo Patriarcha” receberam uma provisão para construção de uma capela própria, erguida à base de madeira, doada também pela Câmara[*2]. No ano seguinte, a irmandade redigiu seu primeiro compromisso, elegendo a primeira mesa administrativa e os primeiros confrades oficiais.

Como não foram preservados os livros de atas e de termos e deliberações, assim como os de recibos, cujos lançamentos haviam sido feitos na primeira metade do século XVIII, não é possível obter informações acerca dos oficiais mecânicos e artistas liberais que trabalharam no projeto de construção e ornamentação da capela primitiva. Esta era provavelmente muito rústica, tendo se deteriorado rapidamente, pois, em 1746, os confrades receberam nova provisão que autorizou a reconstrução do templo[*3]. É preciso salientar que a construção e a ornamentação de templos eram um projeto secular, cuja morosidade faz-se notar também no caso da Capela de S. José, cuja reconstrução e ornamentação interior adentrou o século XIX. Deste modo, o limite cronológico desse trabalho poderia contemplar as primeiras décadas do mesmo século, porém, preferimos tomar para análise apenas o período que compreende os anos de 1746 e 1800, época de grande vigor econômico das irmandades.

Em sua reconstrução, a Capela ganhou uma nova fachada, com sacada de balaústre e torre única. Pedras de cantaria ornamentaram os ângulos laterais inferiores do frontispício, cujas características estilísticas são ímpares na arquitetura mineira colonial. No projeto de reconstrução do templo trabalharam diversos confrades da Confraria de S. José, conforme procuraremos demonstrar nas linhas seguintes.

Os confrades e a arrematação de obras[*4]

Manuel Rodrigues Graça, carpinteiro de grande atividade em Vila Rica, foi morador na Rua do Rosário da Freguesia do Ouro Preto[*5]. Filho natural de Gracia Rodrigues Graça, preta Cabo Verde, casou-se com Maria Gomes do Espírito Santo, com quem teve oito filhos: Ana (casada com o alferes José Pereira Dessa)[*6], Joaquim, José, João, Manuel, Luzia, Antônio e Luís[*7]. Segundo Judith Martins, Manuel Rodrigues figura no “Livro de Exames e Ofício de Vila Rica (1776-1788)”. Aparece também no “Livro de Arrematações (1750-1760)” com indicação de ofício[*8]. Realizou obras para a Casa de Fundição, Casa da Junta da Fazenda, Palácio dos Governadores, Igreja de S. Francisco de Assis, Igreja das Mercês e Perdões, Casa da Câmara e Cadeia e na construção da Ponte Seca[*9].

Manuel Rodrigues Graça possuía quatro escravos: Antônia, Domingas e Lourenço (ambos crioulos), e João Carpinteiro, que lhe “[...] foi dado por Domingos Rodrigues Graça”, seu filho, “[...] para servir em quanto [...] fosse vivo”[*10]. Em seu testamento, Manuel dispõe que a carta de doação passada por Domingos fosse entregue a João, pedindo que ao “Referido Crioullo [...] deixem gosar da Sua Liberdade”[*11].

Os seus filhos também atuaram no campo dos ofícios, matriculando-se igualmente na irmandade do Patriarca: José (carpinteiro) foi mesário da irmandade em 1806[*12] e Joaquim (carpinteiro)[*13], João (marceneiro) e Antônio (latoeiro) realizaram obras na Capela[*14]. As transcrições dos “Livros de Recibos da irmandade (1745-1785)”, realizadas pelo cônego Raimundo Trindade, revelam que Manuel Rodrigues Graça arrematou a obra de emadeiramento da Capela, assinando recibos de 1756 a 1785. Ingresso na irmandade em 1753[*15], Manuel arrematou a vasta obra de emadeiramento da capela, ocupou a mesa administrativa da irmandade cinco vezes e foi tesoureiro outras nove[*16], chegando a passar recibo a ele mesmo nos anos de 1779, 1784 e 1785[*17]. Quando do inventário dos seus bens, em 1815, declararam seus filhos que a irmandade de S. José lhe devia, “[...] por um recibo de Ana Leocádia”[*18], treze mil e duzentos réis. A avaliação de bens demonstra que os aluguéis eram uma fonte suplementar de renda de Manuel. Ao que parece, o aluguel mencionado referia-se à morada de casas térreas cobertas de telha na Rua Monjahi. Manuel Rodrigues possuía ainda duas moradas de casas assobradadas de telhas na Rua do Rosário. Uma era sua morada e a outra foi dada ao alferes José Pereira Dessa como dote pelo casamento com sua filha Ana[*19]. Manuel Rodrigues Graça faleceu em 1799.

Contemporâneo do último, o capitão Manoel da Conceição também usou da posição de destaque na direção da Confraria para arrematar obras de seu projeto de reconstrução. Eleito para o cargo de juiz na eleição de 1782[*20], Manoel da Conceição teria se reunido no consistório da irmandade por diversas vezes com Manuel Rodrigues Graça, tesoureiro eleito para o mesmo ano. Carpinteiro de ofício, Manoel da Conceição assentou-se como irmão de S. José em março de 1764[*21].

Natural da Vila do Sabará, foi casado com Rosa Pereira da Rocha, “[...] a qual sem motivos algum se ausentou fugitivamente (de sua) companhia para a cidade de Mariana, onde faleceu levando consigo dois escravos [...]”[*22], Francisco Nação Mina e Grácia de Nação Angola. Além dos escravos mencionados, era senhor também de Joana, José Angola (oficial de pedreiro) e Estácio Crioulo (oficial de carpinteiro), além de possuir uma morada de casas com suas terras. Figura no “Livro de Receita e Despesa da Câmara de Vila Rica (1774-1802)” como carpinteiro[*23]. Apesar de ter ingressado na Confraria em 1764, somente em 1795 é contratado para trabalhar no projeto construtivo da Capela. Neste ano, os oficiais e irmãos mesários em reunião acordaram que as obras do forro da sacristia e corredores, como também o “mais correspondente”, ficaria sob a administração do

[...] Irmão Tenente Manoel da Com.çam off.al de Carapina comvocando p.ª ella todos os Off.es q. nella quizerem trabalhar a troco dos Annuaes que devem aesta Irmand.e sem q. p.r isso levem mais Sallario do que costumão, (ficando encarregada a irmandade) aSustentar ao d.º Mestre de Obra e aos Off.es desta Irmand.e com tudo omais precizo demadeiras pregos, eos mais Aparelhos necessarios p.ª areferida obra”[*24].

O termo demonstra que a expressividade da categoria profissional dos ofícios mecânicos era clara aos olhos dos congregados e que a inadimplência no pagamento de anuais era uma constante. Da confluência destas duas assertivas surge uma terceira: por ser abundante o número de artífices e artistas inadimplentes, confrades do Santo Patriarca, a irmandade os impelia a pagarem o que deviam através de sua profissão. A pobreza da maioria dos congregados e o período de construções no templo teriam revertido a mão-de-obra artesã em moeda corrente, meio possível para arrecadação do valor cobrado pelos anuais.

Em seu testamento, Manoel da Conceição revela que a influência profissional aferida com a participação na irmandade de S. José também contemplava o universo dos confrades, pois ele arrendou o escravo José, oficial de pedreiro, pelo “jornal de quatro vinténs por dia” para trabalhar em obras, de 1796 a 1801, de Teotônio Gonçalves Dias, que também foi irmão da Confraria dos Pardos e participou ativamente no seu diretório. Pelos bons serviços que realizou, José Angola foi quartado por 64 oitavas de ouro em quatro anos, sendo concedido mais dois anos para satisfação da quantia em caso de moléstia comprovada por certidão[*25]. No ano de 1796, Manoel da Conceição assinou ainda um recibo certificando que havia sido pago pelas obras de conserto de portas e do vigamento, assoalhamento e forração do consistório da capela, importando tudo cento e quinze oitavas e três quartos, “[...] aSaber oitenta e duas oitavas equarto e hum vintem dos Jornais dos ouficiaes e mestre”[*26].

Manoel Rodrigues Rosa, juiz da Confraria em 1795, foi um dos oficiais da irmandade que assinou o termo de fatura da obra do forro da sacristia e corredores contratada por Manuel da Conceição, aludida alguns parágrafos acima. “Homem pardo” – como se auto-intitulou no cabeçalho de seu testamento – Manoel era natural da Freguesia de Congonhas do Campo, filho de Antônia Angola, escrava do Reverendo Francisco de Moura e Brito, e de pai incógnito. Conservando-se sempre no estado de solteiro, nunca teve filhos. Morou em Vila Rica, na Rua do Rosário do Ouro Preto, no período de redação do testamento. Era proprietário de outra morada de casas nas Cabeças e de quatro escravos de nação Angola: Francisco, Mateus, Manuel e Francisco. Tinha uma tenda de ferreiro com todas as suas ferramentas: bigornas, cepo, fornos de tabuleiro, malhos, martelos de forja e “[...] toda a mais ferramenta pertencente à mesma loge”[*27]. O escravo Francisco era oficial de ferreiro, tendo sido quartado por cinqüenta oitavas de ouro pagas em quatro anos. De resto, os outros três escravos também foram quartados e ficaram

[...] obrigados a estarem todos juntos a trabalhar debaixo da administração de meus testamenteiros, como lhes deixo para uzarem da ditta ferramenta do officio de ferreiro p.ª o mesmo officio para melhor elles satisfazerem os seos quartamentos [...] e não se mudarão as ferramentas para parte alguã, e querendo elles mudarem-se, meu testamenteiro haverá a si toda a ferramenta”[*28].

Todos os bens descritos foram adquiridos pelo trabalho e não provenientes de herança. Seu assento como irmão da Confraria de S. José ocorreu em fevereiro de 1769[*29]. Foi eleito irmão de mesa por dois anos, e por outros dois foi juiz da irmandade[*30]. Forneceu ferragens à irmandade, assinando recibo em 1769 e 1770[*31]. Faleceu em 1807 e foi sepultado na capela de S. José.

No rol dos confrades que se beneficiaram com o projeto construtivo do templo, encontram-se também aqueles que trabalharam na sua ornamentação. O pintor furriel Manuel Ribeiro Rosa, “[...] natural de Mariana, filho de Rita Ribeiro, preta forra, casou-se na matriz do Pilar de Vila Rica, em 1794, com Sebastiana Arcângela da Assunção”[*32]. No recenseamento de Vila Rica de 1804, o pintor foi notificado em meio aos moradores da passagem da Ponte Seca, seguindo pela Rua do Bonfim e Ouro Preto, na Freguesia de mesmo nome. Manuel Ribeiro aparece como cabeça do fogo e com a idade de 46 anos, vivendo com sua mulher Sebastiana, que contava 30 anos, e com seu filho João, de sete anos[*33]. Ingressou na irmandade de S. José em 1778[*34], ocupando os cargos de irmão de mesa em 1788 e de procurador em 1798[*35]. Apenas um ano após ingressar na irmandade, em 1779, Manuel Ribeiro arrematou a pintura que compreende o forro da capela-mor até o arco cruzeiro representando os esponsais de S. José. Em 1792, o pintor assinou recibo pelo trabalho de “[...] envernizar humas Sacras: e huma piania da crus da Capela mor [...]”[*36]. Dourou “[...] seis palmas de talha p.ª a mesma Irmandade [...]”[*37] em 1799 e pintou, em 1801, “[...] coatro Jarinhas e huma taboal da Banqueta do Altar mor [...]”[*38]. Realizou também obras para a capela do Rosário de Vila Rica, assinando recibos, no período que compreende os anos de 1784 a 1805, por realizar pinturas nos altares, na sacristia, no trono, no altar do Santo Elesbão, por pratear varas e por outras pinturas não especificadas[*39]. Ribeiro Rosa trabalhou também para a Ordem Terceira de S. Francisco de Assis de Vila Rica e na Capela de Mercês e Perdões, da qual foi irmão, “tendo exercido nesta o cargo de procurador”[*40]. Faleceu em 1808[*41].

Considerações finais

Procurou-se observar como a filiação às irmandades mineiras coloniais favoreceu os homens pardos e, mais especificamente, os chamados oficiais mecânicos e artistas liberais. Constatou-se, à revelia do que outrora sugeriu Marília Andrés Ribeiro[*42], que oficiais carpinteiros, entalhadores, pedreiros e ferreiros contratados pelas mesas administrativas das irmandades, tinham licença para exercer seus ofícios. Se em Vila Rica os ofícios eram regidos por certa liberalidade no que respeita à concorrência, apenas um grupo seleto arrematava as obras do poder municipal e dos templos. Este grupo era composto, predominantemente, por oficiais como Manuel Rodrigues Graça – carpinteiro que arrematou diversas obras públicas –, que tinham condições de arcar com o ônus das cartas de habilitação (das quais ficaram exíguos exemplares) ou das licenças com fiador, que variavam de seis meses a um ano. Eram estes os grandes beneficiados com a prática de ofícios, geralmente homens que conjugavam os ofícios à propriedade de escravos neles especializados, terras com matas virgens para extração de madeira e carros de boi para o transporte da matéria-prima. “Mestres de obras”, como a eles se referiam os documentos da irmandade, estes artífices supervisionavam e gerenciavam grandes obras, tendo a si subordinados oficiais auxiliares. Estes últimos é que penosamente viviam de seus ofícios, auferindo magros “jornais”, sendo, às vezes, impelidos (ou mesmo forçados) a empregar sua força de trabalho nas obras da Capela para quitar seus anuais atrasados. Viveriam estes à margem do mercado, dominado por oficiais que, muitas vezes, atuavam com uma equipe formada por escravos especializados, como era o caso do ferreiro Manuel Rodrigues Rosa.

As atividades manuais parecem ter aberto um horizonte de possibilidades aos escravos, haja vista do número de indivíduos especializados alforriados, como ficou demonstrado na observação das trajetórias apresentadas. O mesmo Rodrigues Rosa, citado há pouco, legou sua tenda de ferreiro com todas as ferramentas para seus escravos quartados poderem pagar as parcelas de sua liberdade. Esta forma de libertar escravos apareceu de forma recorrente, sendo os crioulos os mais freqüentemente beneficiados. Estes, pelos bons serviços prestados ao longo da vida do senhor, acabavam alçados ao mundo dos libertos, o que denota a solidariedade dos pardos com seus escravos[*43]


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Mestrando em História (UNESP - Franca) e bolsista CNPq.
Joaquim Furtado de Menezes. “Irmandade de S. José”. In: Igrejas e irmandades de Ouro Preto, Belo Horizonte: Publicações do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, 1975, p. 82.
Cônego Raimundo Trindade. A Igreja de São José, em Ouro Preto (Documentos do seu arquivo). Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (RSPHAN) , Rio de Janeiro: s/e, n.º 13, 1956, p.128-9.
Sobre a história da construção do templo, ver: C. R. Trindade. Op.cit, p. 109-214.
Foi com o intuito de mapear o grupo dirigente da irmandade – oficiais e mesários – que percorremos os arquivos mineiros. Munidos de uma listagem fundamental, resultante da transcrição dos livros de eleição da irmandade dos anos de 1727 a 1830, dirigimo-nos ao Arquivo do Museu da Inconfidência de Ouro Preto e da Casa Setecentista de Mariana. O cruzamento do arrolamento de oficiais e mesários da irmandade com os catálogos de inventários e testamentos resultou no seguinte: encontramos 21 testamentos e 24 inventários de irmãos de S. José. Foram identificados 36 irmãos da Confraria, dos quais 31 ocuparam cargos de direção. Estes exerciam profissões diversas, conforme haviam constatado os estudos anteriores sobre a irmandade realizados por Francisco Curt Lange e Marília Andrés Ribeiro: eram militares (alferes, capitão, quartel-mestre e tenente), oficiais mecânicos, artistas liberais (pintor ou músico), professores de primeiras letras, boticários, mineiros e padres. Destaca-se, porém, a presença dos oficiais mecânicos, que geralmente conjugavam a estas profissões alguma patente militar. Diante dos limites desse trabalho, nos ateremos à exposição de quatro trajetórias exemplares: as dos carpinteiros Manuel Rodrigues Graça e Manuel da Conceição, a do ferreiro Manuel Rodrigues Rosa e a do pintor Manuel Ribeiro Rosa. Esta lista de nomes poderia contemplar ainda casos como os dos alfaiates Francisco de Araújo Corrêa e João Gonçalves Santiago, do ferrador João Rodrigues Braga e do sapateiro Manoel José da Silva, sem falar dos músicos Bernardo dos Santos e Francisco Gomes da Rocha, do pintor Feliciano Manuel da Costa (filho do advogado inconfidente Cláudio Manuel da Costa) e de Antônio Francisco Lisboa, o mais festejado artista colonial, que pertenciam à fileira dos associados à Confraria. Perseguiremos, assim, alguns daqueles artífices e artistas que se dedicavam a ofícios beneficiados com o projeto construtivo e de ornamentação da capela, que atravessou a segunda metade do Setecentos e adentrou a centúria seguinte. Período também em que as fontes consultadas abundam e permitem vislumbrar como os homens pardos conseguiram inserir-se no mercado das grandes obras que consistiam os projetos construtivos de templos.
Na consulta que realizou nos 130 livros da Seção Colonial de Ouro Preto do Arquivo Público Mineiro, Salomão de Vasconcellos constatou que no período de 1770-1771 “e ainda antes e depois, foi esse Manuel Rodrigues da Graça o principal oficial de carpinteiro de Vila Rica, figurando o seu nome em quase todos os trabalhos de construção e consertos de edifícios, pontes, etc”. Salomão de Vasconcellos. Ofícios Mecânicos em Vila Rica durante o Século XVIII, Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, n.º 4, 1940, p. 357.
Era alfaiate, porta bandeira e irmão de S. José, com marcante presença na mesa administrativa.
No recenseamento de 1804, a então viúva Maria Gomes do Espírito Santo, parda de 70 anos, moradora na Rua do Rosário, aparece como cabeça do fogo, a quem estavam agregados os filhos Manuel Rodrigues Graça, pardo carapina de 34 anos, Antônio Rodrigues Graça, latoeiro de 24 anos, Luiz Rodrigues Graça, oficial de carpinteiro de 22 anos, e Luiza, de 25 anos. Herculano Gomes Mathias. Um Recenseamento na Capitania de Minas Gerais: Vila Rica – 1804, Rio de Janeiro: Ministério da Justiça/Arquivo Nacional, 1969, p. 64.
Judith Martins. Dicionário de artistas e artífices dos séculos XVIII e XIX em Minas Gerais, Rio de Janeiro: Departamento de Assuntos Culturais/MEC: 1974, p. 317.
Idem, Ibidem, p. 317-319.
Arquivo Histórico do Museu da Inconfidência (AHMI), testamento, códice 347, auto 7230, 1º ofício, fls. 4.
Idem, fls. 4. No recenseamento de 1804, apenas dois escravos foram arrolados: Lourenço, com idade de 8 anos e Antônio, de 6 anos. H. G. Mathias. Op.cit, p. 64. Este dado comprova que as disposições testamentárias foram concretizadas.
AHMI, inventário, 1º ofício, códice 80, auto 974; Arquivo da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar/Casa dos Contos (APNSP/CC), Livro de Eleições (1727-1854), microfilme, rolo 7, vol. 158-60.
No momento do recenseamento de 1804, Joaquim Rodrigues Graça tinha 40 anos, vivendo do seu ofício de carapina. Cabeça do fogo, Joaquim sustentava Ana Ferreira, sua mulher de idade de 34 anos, além de sua filha Ana Ferreira de 13 anos e sua sogra Adriana Maria da Costa, crioula forra de 60 anos. H. G. Mathias. Op.cit, p. 97.
R. Trindade, Op.cit, p. 188-196.
Marília Andrés Ribeiro. A Igreja de São José de Vila Rica, Barroco, Ouro Preto: s/e, n.º15, anos 1990/92, 1989, p. 455.
Foi irmão de mesa em 1755, 1758, 1767, 1772 e 1776; e tesoureiro nos anos de 1763, 1771, 1778, 1779, 1780, 1781, 1782, 1783, 1784. APNSP/CC, Livro de Eleições (1727-1854), microfilme, rolo 7, vol. 158-60.
R. Trindade, Op.cit, p. 139-140.
AHMI, Inventário, 1º ofício, códice 106, auto 1328, fls.3v. Ana Leocádia era esposa de Gonçalo da Silva Minas, que também era irmão de São José e contemporâneo de Manuel Rodrigues Graça.
Corroborando com o que foi declarado no testamento, o alferes José Pereira Dessa, homem pardo, de 62 anos aparece, no recenseamento de 1804, residindo na casa vizinha à da falecida Maria Gomes do Espírito Santo, situada na rua do Rosário, vivendo de sua loja de alfaiate com sua mulher Ana Rodrigues do Espirito Santo, de 54 anos. Os filhos do casal eram os seguintes: José (15 anos), Maria (14 anos), Joaquina (8 anos) e Francisca (4 anos). H. G. Mathias. Op.cit, p. 64.
APNSP/CC, Livro de Eleições (1727-1854), microfilme, rolo 007, vol. 158-60.
M. A. Ribeiro, Op.cit, p. 454.
AHMI, Livro de Registro de Testamento nº 17, fls. 71v.
S. Vasconcellos, Op.cit, p. 358.
R. Trindade, Op.cit, p. 169.
AHMI, Livro de Registro de Testamento n.º 17, fls. 71v.
R. Trindade, Op.cit, p. 172.
AHMI, testamento, 1º ofício, códice 347, auto 7229, fls. 4v. Segundo Eschwege, chamado o “pai da geologia brasileira”, “com o ano de 1810, começa a nova história da fabricação de ferro, simultaneamente em São Paulo e Minas Gerais. Não merece nenhuma consideração o fato de terem alguns ferreiros e lavradores, nesse período, fabricado algum ferro em forjas de ferreiro, e mesmo em pequenos fornos, não só em Minas, como também em São Paulo. Isso pertence já à história antiga [...] Na Província de Minas, a fabricação do ferro tornou-se conhecida no começo deste século, através dos escravos africanos”. Wilhelm Ludwig von Eschwege. Pluto brasiliensis, trad, Belo Horizonte: Itatiaia, 1979, vol. 2, p. 203.
AHMI, testamento, 1º ofício, códice 347, auto 7229, fls. 5.
M. A. Ribeiro, Op.cit, p. 455.
Foi mesário nos anos de 1779 e 1782. Ocupou o cargo de juiz em 1781 e 1795. APNSP/CC, Livro de Eleições (1727-1854), microfilme, rolo 7, vol. 158-60.
R. Trindade, Op.cit, p. 176-177.
Idem, Ibidem, p. 195.
H. G. Mathias. Op.cit, p. 80.
M. A. Ribeiro, Op.cit, p. 455.
APNSP/CC, Livro de Eleições (1727-1854), microfilme, rolo 7, vol. 158-60.
R. Trindade, Op.cit, p. 162.
Idem, Ibidem, p. 162.
Idem, Ibidem, p. 162.
Cônego Raimundo Trindade. Irmandade do Rosário de Ouro Preto (Freguesia do Pilar), Anuário do Museu da Inconfidência, Ouro Preto: Ministério da Educação e Cultura/Diretoria do PHAN, 1955-7, p. 241.
R. Trindade. Op.cit, p. 195.
Idem, Ibidem, p. 195.
Segundo Marília Ribeiro, “Confrontando-se os levantamentos dos artesãos de Vila Rica, feitos por Salomão de Vasconcellos, Cônego Raimundo Trindade, e por Judith Martins, constatamos que, dentre os inúmeros artesãos que trabalhavam no projeto construtivo e ornamental da Igreja de São José, apenas três exerciam legalmente a profissão: José Pereira dos Santos [...] Manoel Rodrigues Graça [...] e Miguel Maia...” Marília Andrés Paixão. O trabalho do artesão em Vila Rica, Revista de História da UFMG, Belo Horizonte: 1 (2): 1996, p. 81. Embora nossa amostragem tenha sido pequena e os documentos analisados antes qualitativamente que quantitativamente, demos prova de que um maior número de oficiais mecânicos licenciados atuaram no projeto construtivo de S. José. Cabe ressaltar que o artigo de Vasconcelos, principal fonte consultada por Marília Ribeiro para responder à questão da atuação provisionada, não arrolou a totalidade dos ferreiros, sob a justificação de que estes interessavam menos às obras dos templos. Afirmação passível de ressalvas, visto que, apesar de haver oficiais específicos para a confecção dos sinos, os sineiros, a nebulosa fronteira que dividia os ofícios mecânicos em Vila Rica teria feito com que ferreiros também oferecessem este tipo de serviço. A falta de especialização era uma das principais características do trabalho artesanal e forte empecilho ao bom funcionamento do sistema corporativista para lá transplantado. Raquel Quinet Pifano. O estatuto social do artista na sociedade colonial mineira, Locus: revista de História, Juiz de Fora, vol.4, n.2, pp. 121-130, 1998.
Embora este não tenha sido o propósito deste trabalho, a história dos ofícios mecânicos na irmandade de S. José não pode ser desvinculada da dos escravos especializados e de suas estratégias de libertação do cativeiro.