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Artigo publicado na edição nº 40 de fevereiro de 2010.
“BAMO SAMBÁ”

Edson Roberto de Jesus

O crescimento econômico e demográfico da cidade de São Paulo, impulsionado pelo cultivo do café e pelo intenso processo de imigração, no final do século XIX e início do século XX, transfigurou a cara da cidade que, até o século XVIII, era um recatado centro econômico-comercial, provinciano e de importância secundária.

No final do século XIX, pelos idos de 1872, a população negra escrava na província de São Paulo correspondia a 156.612, aproximadamente 18,7% da população. Depois de um período consoante à transformação da região no maior centro produtor de café do país, marcado pela crescente ampliação do número de escravos negros, em 1811 essa população correspondia a 38.542 cativos, passando a 78.858 cativos em 1836[*1]. Talvez, dado ao intenso processo de imigração, a população negra na cidade de São Paulo vê reduzida sua participação na composição populacional da cidade.

Se em 1872 eram quase 12.000 negros que perfaziam 50% da população, em 1890 eles são menos de 11.000 para uma população de 64.934 habitantes, ou seja, em 18 anos a presença negra baixou de metade da população paulistana para 16,90%. Tal fato foi agravado ainda mais nos três anos subseqüentes quando os domiciliados em São Paulo duplicaram, atingindo mais de 160.000 pessoas das quais 55,00% eram estrangeiros.[*2]

Transportando algum tipo de compra ou mercadoria, lavando, levando e trazendo roupas, carregando latas d’água, despejando latas de dejetos ou cuidando dos animais, a população negra-escrava somente circulava pela cidade trabalhando. Suas atividades estavam vinculadas às necessidades do Senhor, não desenvolviam atividade produtiva de fato, limitando-se aos serviços internos das casas ou a eventuais serviços externos, exceto nos dias de festas quando podiam circular com maior desenvoltura pela cidade e, mais para o final do século, quando passaram a exercer qualquer atividade, por tempo e preço combinado com antecedência, ganharam as ruas do centro urbano onde trabalhavam, cantavam, conversavam, contribuindo assim para que as ruas da cidade fossem permeadas por atividades que as dotaram de um espírito urbano característico.

A população negra composta pelos inúmeros libertos antes da abolição da escravatura já desenvolvia atividades comerciais de pequeno porte, pequenos negócios, atividades de ambulantes e, às vezes, recebiam ajuda e colaboração das Irmandades Católicas protetoras dos negros. Segundo Antonio Egydio Martins, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário

[...] pequenos prédios térreos [...] eram habitados por casais de pretos africanos que, depois que conseguiram libertar-se do cativeiro, estabeleciam-se com quitanda, nos mesmos prédios em que residiam, [...] procurando, logo que podiam, comprar uma ou duas crioulas ou mulatas, que tinham a infelicidade de ser suas escravas.[*3]

As negras quitandeiras e quituteiras, embora não fossem baianas, andavam vestidas como tal, vendendo seus acepipes em tabuleiros nos locais públicos, como ruas e praças, cantando seus pregões. Muitas ficaram famosas, como a mulata Genoveva, a parda Maria Punga, a morena Sinhara, a preta Rita Cachinguelê, a cafuza Maria Cabinda, que quebravam o silêncio da cidade com suas vozes a anunciar:

Compre os docinhos bão
de quem aqui num mora
Compre, compre, meu branco
qu’eu já vô siimbora![*4]

Cocadinha, Sinhá!
[...] Óia o bolinho de bagre!
Óia o pinhão miquiquerê!
Óia o içá p’rá vassuncê![*5]

No entanto, essa nova condição dos negros, escravos ou libertos, não estava em consonância com o projeto urbano de modernização da cidade, conforme os modelos de civilidade considerados mais adequados pelos padrões estéticos europeus. Tratando de extinguir possíveis oposições e focos contrários a essas pretensões, os poderes públicos trataram de adotar de forma imediata uma série de medidas destinadas a controlar, restringir e obstruir essa experiência da população negra. Em 1886 é adotado o Código de Posturas, que deslocava os mercados para os bairros, impedia as quitandeiras de comercializarem e os pais de santos de exercerem suas atividades. Mesmo as Irmandades, como a de Nossa Senhora do Rosário, localizada na Praça Antonio Prado e, posteriormente, transferida para o Largo do Paissandu sob pressão do poder municipal, são afetadas por essa prática da administração pública[*6].

Assim, no processo de renovação urbana e de instauração de uma “nova ordem social”, a população negra da cidade de São Paulo é submetida a um processo nefasto e hostil de inserção social, econômica e – porque não dizer – política, sendo instada a permanecer nas fímbrias sociais, à margem de todo curso de acontecimentos, e nos espaços recônditos, mais sombrios e afastados.

Escravo, ex-escravo ou liberto. Ao passar por essas três condições, o status social da população negra é acompanhado por um processo de redefinição do seu espaço social.

De escravo ele passa a ser livre, mas marginal, com uma cidadania precária mesmo em relação aos imigrantes pobres; sua alternativa é esquivar-se para modos informais de sobrevivência – como já ocorria antes da abolição. Nestas condições adversas e num espaço social exíguo e excludente, suas expressões culturais teriam papéis importantes para minimizar ou, ao menos sublimar os obstáculos impostos pela sociedade e sua “nova” ordem urbana.[*7]

Três áreas geográficas localizadas em zonas distintas da cidade, com aspectos sociais e econômicos bastante análogos, constituiriam-se como espaços distintivamente negros, dada a convergência da população negra para essas localidades, no período compreendido entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX: a Baixada do Glicério (Lavapés/Liberdade), a Barra Funda e a Bela Vista (Bexiga). Merece ser ressalvado que os bairros do Jabaquara e do Bosque da Saúde, à época bastante afastados do centro da cidade, também se converteram em pólos de ajuntamento e concentração da população negra na cidade de São Paulo. Essas três localidades se notabilizavam por sua proximidade da região urbano-comercial localizada no centro da cidade, por serem contíguas a bairros notadamente reconhecidos como da elite paulistana (Campos Elíseos, Avenida Paulista e Liberdade) e por serem regiões precárias, deterioradas e desvalorizadas, onde eram localizadas as habitações mais baratas e em geral coletivas.

Samuel H. Lowrie, ao abordar a disposição espacial da população negra na Cidade de São Paulo, informa que ela estava distribuída conforme “[...] duas condições: moradias baratas e proximidade de classes que os possam admitir como empregados domésticos”.[*8] Nas palavras de um senhor negro, recordando suas condições de trabalho à época:

[...] os negros eram quase tantos quantos os italianos, na época, em São Paulo, [mas] viviam totalmente desintegrados [...] Os imigrantes – na indústria e no comércio. Para o negro sobrava só a tarefa de lavar casas, limpar escritórios, carregar lenhas e outras cargas. Éramos todos subempregados. Via-se muito, na época, negros puxando carrocinhas pela cidade ou fazendo ‘ponto’ na [rua] Quintino Bocaiuva, com latas e escovões nas mãos, à espera de ser chamado para limpar uma casa aqui, raspar um assoalho ali.[*9]

Esses bairros, que abrigavam uma vasta proporção da população negra da cidade, também acolhiam uma população pobre de origem local ou imigrante, mas com uma divisão espacial peculiar: os brancos ocupavam as ruas mais urbanizadas; os negros habitavam as ruelas, os becos e os locais alagadiços.

Barra Funda, Bexiga e Baixada do Glicério são as regiões onde foram se instalar as várias famílias, com graus distantes ou próximos de parentesco, pessoas recém saídas da zona rural e negros paulistanos, os maridos que desempenhavam pequenos bicos, trabalhavam nos armazéns da E. F. São Paulo Railway e as esposas que trabalhavam como empregadas domésticas nos bairros nobres dos Campos Elíseos, da Paulista e da Liberdade. Ao tornar-se densamente povoada por negros, a região da Barra Funda passa a ser palco das atividades ligadas à vivência de suas tradições e cotidiano. Como descreve Seu Zésinho do Morro da Casa Verde: “[...] lá era esburacado, então era lá que nóis fazia samba, lá que nóis fazia tudo aqueles negócio. Foi dali, da confluência da Rua Souza Lima com Vitorino Carmilo, da casa de Dionísio Barboza, que em 1914 saiu o primeiro desfile do Cordão Camisa Verde, reunindo seus parentes e amigos no folgar carnavalesco.”[*10]

O Bexiga, inicialmente povoado pela população negra, tem suas origens assentadas no século XIX. Ali, em meados do citado século, foi fundado um quilombo semi-rural, o quilombo da Saracura. Dado que a região era de difícil acesso, era para lá que os negros escravos fugitivos se dirigiam a fim de obter refúgio. Apesar de sua formação populacional ser patentemente popular, a região desenvolveu-se de modo bastante peculiar, diverso daquelas duas outras regiões: não foi pela instalação de indústria e nem tampouco pela construção de ferrovia. Em face à intensificação do processo de imigração, uma grande parcela de italianos se estabelece na região; numerosos, impõem seus costumes, padrões e visões de mundo.

Parte do Bexiga começa a se tornar mais nitidamente negra à medida que a população negra via ocupando as escarpas mais íngremes do vale, às margens do riacho Saracura, em decorrência da destruição das residências coletivas do centro da cidade em virtude do projeto de reforma do antigo centro, que expulsou uma grande parcela de negros para uma região próxima e mais barata, e com a construção da Avenida Paulista, pois ela se tornou uma área contígua à uma região de elite, havendo, portanto, um amplo mercado de trabalho doméstico para os negros, já que mesmo os imigrantes pobres raramente realizavam essas funções.

O bairro do Bexiga se instituiu como um bairro onde a população negra vivia na área dos imigrantes italianos, onde os espaços e lugares estavam definidos e a estratificação social se impunha organizando e regrando os segmentos étnicos que compunham sua população. Os italianos eram comerciantes, oficiais artesãos e moravam em moradias melhores ou em boas condições. Os negros apenas viviam nessa área. Os imigrantes italianos viviam do pequeno comércio, das oficinas artesanais, como barbeiros, padeiros e operários, residindo em boas ou razoáveis moradias. Os negros somente viviam nessa área marcada pela hegemonia cultural, material e social dos imigrantes.

A região da Lavapés/Liberdade (Baixada do Glicério) tem por característica o contra-senso de ter, entre a sua população, abolicionistas como Antonio Bento, Juca Frade e João Mendes da Gama, que lutavam pelo fim da escravidão, e supliciadores, que aplicavam duras penas corporais nos negros-escravos. Destaca-se a sua riqueza de manifestações profanas e religiosas, sendo a mais famosa a Festa da Santa Cruz, que ocorria no Largo da Forca, na Igreja dos Enforcados. A princípio, caracterizava-se por ser uma região de refúgio de escravos fugitivos e de abolicionistas. No transcorrer da realização do plano urbano de remodelação do centro da cidade, inúmeros representantes da população negra na cidade se estabeleceram na região devido aos baixos custos de moradia e à proximidade com a região comercial do centro da cidade. “No Glicério, na sua Baixada, zona menos valorizada do bairro, porque muito alagadiça, pois por ela passava o Córrego do Lavapés, era o local onde residiam as famílias negras e onde se formaram o Bloco das Baianas Teimosas, o Cordão Paulistano da Glória e, em 1937, a famosa Escola de Samba Lavapés”.[*11]

A luta incessante da população negra contra o racismo, o preconceito e a discriminação da qual era vítima, visando sua inserção e integração social, foi marcada, no transcorrer da história, por inúmeras iniciativas voltadas à sua organização e mobilização. Apesar de segregados por uma sociedade que insistia, e insiste, em não reconhecer essa população como coparticipante do processo de construção dessa sociedade. Porém, a história da vida associativa da população negra no Brasil remonta aos tempos coloniais, quando essa empreendia formas de associação que envolviam escravos e ex-escravos negro-africanos e afrodescendentes. Abertas e públicas como as irmandades religiosas, secretas e disfarçadas como a capoeira e o candomblé, todas essas ações tinham por pano de fundo satisfazer as necessidades culturais, religiosas, econômicas e humanas da população negra.

A abolição, não contribuiu para a resolução das necessidades prioritárias da população negra, antes trouxe um contingente novo de problemas e necessidades, mas abriu possibilidades de organizações diversas serem empreendidas – com graus de autonomia, independência e liberdade notáveis quando comparados às experiências anteriores.

As irmandades religiosas sobreviveram intactas à abolição e, em São Paulo, a Irmandade do Rosário, fundada em 1711, e a Irmandade da Nossa Senhora dos Remédios, fundada em 1836, não somente desempenharam papel fundamental no processo da abolição como também guardam um caráter emblemático: a realização das danças em seus terreiros ou na rua. Fato que originou uma grave tensão entre essas irmandades e as autoridades hierárquicas da Igreja, que consideravam essas manifestações – a música e a dança negro-africanas ou afrodescendentes – disparates que desonravam e humilhavam a dignidade da Igreja.

Abolida a escravidão, outras organizações tomam corpo, como um aproveitamento da oportunidade de se organizar em conformidade com o grau de autonomia, liberdade e independência possibilitado pelo novo regime. Várias organizações são criadas, com caráter e organização inerentes às aspirações sociais dos membros. Organizações informais destinadas apenas a promover a agregação da população negra, que se reuniam regularmente para cantar, conversar, tocar música, organizar bailes, viagens, levantar fundos etc., posteriormente desencadearam processos de formação dos grupos de carnaval. Em sua maioria, tais organizações tinham por recorte a sua concentração em atividades de lazer e de recreação.

Imperceptível para a “nova” ordem urbana, a população negra, cujas conquistas são tímidas, busca tornar sua história também história da cidade de São Paulo. A história da população negra não está registrada nas faces dos edifícios, nos viadutos, nos nomes internacionalizados das companhias de serviços urbanos e das companhias teatrais. No entanto, essa população buscava outras formas de se manifestar e inscrever na cidade suas experiências.

Assim, além de marcar presença nos espaços urbanos da cidade concentrando-se em regiões que se tornavam autênticos territórios negros, onde podiam viver de acordo com regras que eles próprios estabeleciam informalmente, abrindo possibilidades para o exercício de suas práticas sociais e culturais, constitui-se uma leitura, ainda que diminuta e rarefeita, mas certamente diferenciada da cidade, renovando seus trajetos e formas culturais, recriando suas práticas com o fim de tentar sobreviver e de afirmar e reafirmar sua, ainda que precária, cidadania, elaborando, de modo modesto e criativo, novas formas de “manter vivas suas tradições”.

Danças, cantos e músicas, independente de suas variações locais, provindas do Batuque negro-africano, outrora comumente denominados por batuques, passam, a partir do século XIX, a ser conhecidos e denominados como Samba. Não obstante essa condição, o Batuque assumiu, nas diversas regiões do país, feições diversas, próprias e bastante particulares.

Diverso, em São Paulo, o Batuque assumiu feitio, tempero e sabor peculiar, elementos presentes em inúmeras abordagens narrativas que, apesar do ranço racista e preconceituoso dos autores, trataram de registrar essas diversas manifestações. Affonso A. de Freitas descreve que, por volta do final do século XIX

[...] o samba, amálgama das múltiplas danças regionais, da capoeira, do lundu, do jongo, batucado em quase todas as fazendas e sítios do Estado de São Paulo e fundamente desfigurado pelo perpassar do tempo e da civilização, é tudo quanto resta dos costumes característicos do povo oprimido.

A pomba vuô; vuô, sentô
Arrebente o samba qu’eu já vô
Eh! Pomba! Eh!
Eh! Pomba! Eh!
Serena, pomba, serena:
Não deixa de serená!
O sereno desta pomba
Lumeia que nem metá!
Eh! Pomba! Eh!
Eh! Pomba! Eh!
A pombinha vuô no chão
O amô no coração,
Eh! Pomba! Eh!

[...] Entoava no samba de há uns quarenta anos passados, o ébano figurante, ao som ritmado dos tambaques, adufes e chocalhos, num saracoteio infrene, em contorsões grotescas, sem arte e sem estética, lúbrico, torpemente lascivo no rebulir de quadris, que era o momento calmo da dança, o ‘sereno da pomba’, enquanto os parceiros, pretos e pretas que o cercavam em círculo, agitados em permanente peneirar de nádegas, repetiam na mesma toada, o estribilho. [...] Afinal já quase exausto, a fronte gotejante de suor, entreparava o dançador em frente à parceira que mais lhe agradara, desenvolvendo a dança em requebros de desafio até a figurante distinguida pela preferência sair a terreiro. [...] Então, entre os dois, desenvolvia-se um jogo de negaças amorosas que se desdobrava, tardio às vezes, às vezes rápido, terminando invariavelmente em recíproca umbigada, lúbrica, lasciva, obscena [...][*12]

Em meio aos debates, confrontos entre os batuqueiros das diversas cidades por intermédio de versos improvisados, a dança, a música e o canto tomavam corpo e tomavam o corpo. Mário Wagner Vieira da Cunha, relatando o que ocorria nos barracões na Festa de São Bom Jesus de Pirapora, nota que no desenvolvimento da performance

[...] os indivíduos mantém o corpo um pouco curvado para a frente, e a cabeça erguida com os olhos postos no além. As pernas, levemente flexionadas, se realizavam no movimento da marcha, não havendo elevações do tronco. Os braços conservam-se no geral retesados, estando as mãos na altura dos ombros. A mais intensa e característica movimentação é a dos quadris. Negras de ancas volumosas têm uma habilidade inigualável em fazê-los girar em grandes círculos ou em avançá-las e recuá-las.[*13]

Essa “performance”, atuação, interpretação, representação e desempenho, levada a efeito no estado de São Paulo, tinha por centros importantes as cidades de Capivari, Caçapava, Tietê, Laranjal Paulista, Porto Feliz, Piracicaba, Araçaoiaba da Serra, Guaratinguetá, Cunha, Lorena, São Bom Jesus de Pirapora, Jundiaí, Campinas, Guaxupé, Redenção da Serra, São Simão, Jacareí, Sorocaba, Limeira, Rio Claro, São Pedro, Itu, Tatuí e São Carlos, dentre outras, e na capital em função da migração da população negra dessa região. Também a região litorânea, desde o século XVI, registra a ocorrência do Batuque em diversos engenhos de cana-de-açúcar na Ilha de São Vicente, também denominada de Engenho do Governador, no entreposto de comércio de negros-escravos localizado no povoado de Cubatão[*14]. Na cidade de Santos,

[...] houve até um Rei Batuqueiro, o famamaz Pai Felipe, que chefiava o Quilombo da Vila Mathias, que ficava nas fraldas do Monte Serrat, e que ficou famoso devido às batucadas que promovia... Dizem até que, durante os festejos da Abolição da Escravatura, Pai Felipe saiu com sua gente pelas ruas da cidade, batucando com seus ‘tambaque’ e ’adufos’, e que, junto do Largo do Carmo, formou uma grande roda onde sambaram lado a lado com os brancos abolicionistas. [...] Existiam também as famosas ‘batucadas’, cujas rodas se formavam lá no alto do Monte Serrat e durante os festejos consagrados à Padroeira da Cidade... onde se defrontavam os ‘bambas’ do samba ‘pesado’, da ‘pernada’.[*15]

Na capital do estado de São Paulo, o Batuque irradiava-se pela cidade – Largo de São Bento, Chafariz da Misericórdia, Igreja de São Benedito, Largo do Rosário. Após a concessão oficial de licença para a realização de danças de pretos ou danças de negros, a população negra, escrava e liberta, realizava suas “[...] danças e os cantores rompiam ao ruído seco do ‘reque-reque’, ao som rouco e soturno dos ‘tambus’, das ‘puítas’ e dos urucungos que, com a marimba solitária, formavam a coleção dos instrumentos africanos conhecidos em nossa terra.”[*16]

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Bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Mestre em Antropologia Cultural pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor do Curso de Comunicação Social da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid). Diretor do Projeto Cultural Samba Autêntico. Coordenador do Projeto Rua do Samba Paulista.
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