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Artigo publicado na edição nº 54 de Junho de 2012.

OS QUARENTA ANOS DO ÁLBUM CLUBE DA ESQUINA: resistência política e inovação musical na Sociedade do Espetáculo brasileira[*1]

Emerson Ike Coan[*2]

Introdução

Eu já estou com o pé nessa estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos
Que notícias me dão de você
Sei que NADA será como está
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
(Nada será como antes – M. Nascimento/R. Bastos)

Este artigo versa sobre a resistência política e a inovação musical promovidas pelos artistas que participaram do álbum Clube da Esquina, de 1972, no contexto da repressão do regime militar no Brasil e sob a perspectiva da Sociedade do Espetáculo.

Embora os países subdesenvolvidos não tenham sido analisados de forma detida por Guy Debord, considerando a contemporaneidade de A sociedade do espetáculo, de 1967, e tendo em conta a relação de dependência em face dos países desenvolvidos, vislumbra-se a aplicação dos conceitos de poder espetacular concentrado e difuso na sociedade brasileira em tal período.

Pretende-se verificar se a mencionada produção cultural se contrapôs a essas formas de poder espetacular e se foi inovadora na sociedade brasileira de então.

A repressão do regime militar no Brasil em 1972 sob a perspectiva da Sociedade do Espetáculo

O final dos anos 60 foi explosivo em todo o mundo, marcado por passeatas por igualdade de direitos nos EUA, protestos contra a guerra do Vietnã e barricadas em Paris, o “maio de 68”, como reflexo de várias práticas sociais alternativas, isto é, grupos sociais, em sua maior parte compostos por jovens, que agiram questionando as instituições sociais vigentes, quer de uma perspectiva política, quer de uma perspectiva comportamental.

No Brasil, a retomada dos movimentos sociais e estudantis conseguiu mobilizar cem mil pessoas, em junho de 1968, nas ruas do Rio de Janeiro, para protestar contra a ditadura militar. Em dezembro do mesmo ano, porém, com o Ato Institucional nº 5, o autoritarismo do governo dá curso a um processo “linha-dura”, nos “anos de chumbo”, entre 1969 e 1974. O ato, que vigorou até 1978, concedeu ao Presidente plenos poderes para fechar por tempo ilimitado todo o Poder Legislativo, intervir em estados e municípios, suspender por dez anos os direitos políticos de qualquer cidadão e cassar mandatos eletivos, demitir ou aposentar sumariamente funcionários públicos, incluindo juízes, suspender a garantia do “habeas corpus”, efetuar prisões sem mandado judicial e decretar estado de sítio. [*3]

Para Guy Debord[*4] , a partir do conceito de Sociedade do Espetáculo[*5] , o poder espetacular concentrado numa ditadura, de direita ou de esquerda, caracteriza-se pela produção de imagens para justificar o poder exercido por seu dirigente e é acompanhada de violência permanente, de modo que onde essa forma de poder domina, “a polícia também domina”. A concentração do arbítrio na figura do dirigente é a garantia da coesão totalitária, “como vedete absoluta que todos devem identificar-se magicamente, ou desaparecer”, “em acumulação primitiva acelerada pelo terror”.[*6]

Por outro lado, a ampliação da base material do exercício hegemônico burguês, com a ocupação do aparelho de Estado pelas Forças Armadas, deu-se no período do chamado “milagre brasileiro”, também entre 1969 e 1974, quando ocorreu a consolidação do projeto de desenvolvimento econômico, associado e dependente da capital multinacional, norte-americano em especial, com o aumento do mercado consumidor para bens de consumo duráveis. [*7]

É o que Debord chama de poder espetacular difuso, “não perturbado do capitalismo moderno”, em razão da americanização do mundo nas democracias ditas “burguesas”.[*8]

A presença simultânea de elementos do poder espetacular concentrado e do difuso parece ser apropriada para a caracterização das formações econômico-sociais capitalistas subdesenvolvidas, com a sociedade brasileira durante o período da ditadura militar, uma vez que:

Nesse período havia a presença simultânea de um Estado economicamente intervencionista e promotor do ‘desenvolvimento’, a serviço da burguesia brasileira e multinacional, que concentrava o exercício do poder político (e tentou, no início dos anos 1970, transformar um general em ‘líder popular’), e de uma sociedade de consumo em processo de constituição, promotora do culto das mercadorias e da difusão social (especialmente pela Rede Globo de Televisão) das práticas espetaculares.[*9]

O que não deixou, porém, de revelar uma contradição, pois o anseio de consumir livremente era tolhido pela ideologia da segurança nacional: “a censura dos produtos culturais entravam em choque com o próprio incentivo à indústria cultural promovido pela ditadura militar”. [*10]

O álbum Clube da Esquina: resistência política e inovação na MPB

Em razão desse contexto político no país, no campo da música, compositores, como Chico Buarque, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Caetano Veloso, entre outros, exilaram-se ou foram exilados por força da truculência da repressão, e reinava a produção da denominada “canção verde-amarela” ou “ufanista” (“Eu te amo, meu país”), expresso na típica propaganda política de Estados autoritários do “Brasil, ame-o ou deixe-o!” e do “Ninguém segura este país!”.

Como expõe Waldenyr Caldas:

A música popular brasileira ficou por conta do retorno da bossa nova, que falava apenas de temas suaves como o amor, a rosa, a flor, o barquinho, o mar, a praia, o sol e outros substantivos sem compromisso com a resistência política daquele momento. Nem poderia ser diferente. Não havia nenhuma chance de contestar o ‘establishment’. Apenas alguns poucos talentos como Milton Nascimento, o Som Imaginário e Elis Regina, entre outros, ainda conseguiam realizar alguns trabalhos isolados.[*11]

Por isso, merece lembrar o lançamento do álbum duplo Clube da Esquina [*12] , em 1972, tendo como protagonistas centrais Milton Nascimento e Lô Borges, com produção do primeiro e de Ronaldo Bastos.

Dele, “Nada será como antes” (Milton/Ronaldo Bastos) foi considerada “um autêntico libelo de oposição ao regime vigente”. Como é da epígrafe deste artigo, os versos expõem o drama dos que se preocupavam com o destino imprevisível dos exilados pela ditadura, entre os quais estava o próprio irmão de Ronaldo Bastos, tendo a ideia da letra surgido quando ele lia um artigo sobre a questão do “amanhã” na MPB, com transferência do enfoque da área musical para a política [*13]. Por ter na procura pelos amigos a sua expressão máxima, não por acaso o motivo ritmo-melódico é muito semelhante ao da canção “With a little help from my friends” (Lennon/McCartney), do disco dos Beatles, St. Pepper’s Lonely Heart Club Band, de 1967. “Resistindo na boca da noite” (escuridão da ditadura após o AI-5) “um gosto de sol” (a esperança de que no amanhã, com a democracia e a liberdade, nada será como antes).

“San Vicente” (Milton/Fernando Brant), com seus famosos versos (“Coração americano/Acordei de um sonho estranho/Um gosto, vidro e corte/Um sabor de chocolate/No corpo e na cidade/Um sabor de vida e morte”), refere-se metaforicamente a uma cidade latina, que na verdade representava o Brasil, pois, F. Brant disse que o “clima pesado de repressão está muito presente” nessa música e em sua letra.[*14] A marca hispânica se faz presente nessa canção como uma deferência aos irmãos latino-americanos de língua espanhola, também sob regimes repressivos. F. Brant afirmou ainda que a letra dela “fala da América Latina e de tudo que acontecia por lá, mas eu consegui colocar de uma maneira mais amena.”[*15]

“Tudo o que você podia ser” (Lô/Márcio Borges) fala do desejo por mudanças pelo retorno dos movimentos sociais e estudantis e faz referência à Zapata, líder revolucionário mexicano (“Sei um segredo você tem medo/Só pensa agora em voltar/Não fala mais na bota e do anel de Zapata/Tudo que você devia ser sem medo”). O medo é o instalado pelo AI-5.

Sobre “Ao que vai nascer”, música de Milton e letra de F. Brant, diz este que:

Na época, um dos slogans de propaganda do governo Médici era ‘Brasil – País do Futuro’. Eu escrevi ‘Brasil é o país do futuro/meus filhos, meus netos o futuro está aqui’, e continuava por aí com esse tom irônico. Eles proibiram essa parte. Então mudei para ‘queria falar de uma terra com praias no norte/e vinhos no sul/a praia era suja e o vinho vermelho/vermelho secou’. Acho que assim ficou ainda mais forte. E passou. Azar deles. [*16]

Os artistas explicitamente se opuseram ao sistema em vigor (de nossa parte, ao poder espetacular concentrado e difuso na sociedade brasileira de então). Nas palavras de Ronaldo Bastos:

Não vi acontecer depois algo que chegasse aos pés do que acontecia naquela época. Era um tempo em que não se dizia ‘mídia’, um tempo de censura e ditadura. Nós éramos jovens e só nos interessava a Revolução. Abominávamos a ignorância da direita e a burrice de certos setores da esquerda. Queríamos mudar o mundo e estivemos perto de mudá-lo em 1968. Ou, pelo menos, acredito que nunca o mundo mudou tanto em tão pouco tempo. E a música brasileira mudou para sempre. O Clube da Esquina nunca foi perdoado por não ter feito média com a ‘mídia’. Tenho ainda uma matéria de uma importante revista da época, cujo título era ‘Esses são os Beatles brasileiros’. Pois os Beatles eram Rolling Stones e não tinham muito tempo para ficar fazendo jogo de cena. É isso.[*17]

Para a unidade conceitual do álbum, houve uma relação necessária entre a resistência política e a contracultura.

Tal é percebido em “Cais” (Milton/R. Bastos), com seu clima de melancolia diante do mundo circundante, de “viagem” interior (“Para quem quer se soltar invento o cais/Invento mais que a solidão me dá/Invento lua nova a clarear/Invento o amor e sei a dor de me lançar/Eu queria ser feliz/Invento o mar/Invento em mim o sonhador”), ao indicar que “em uma sociedade de padrões sociais previamente estabelecidos, como era a brasileira, inventar era um ato temerário, verbo de conjugação proibida”.[*18]

“Nuvem cigana” [*19] (Lô/R. Bastos), “hippie”, cabelos ao vento e de coração sem medo (“Se você deixar o coração bater sem medo”), apresenta uma série de palavras que indicam movimento – nuvem, poeira, pó, vento, ventania, estrada – e contrapõe-se ao período de inércia vivido e imposto pelo regime militar. É interessante notar:

[...]como este ideal de ‘pé na estrada’, contracultura e desbunde, presentes na música, assumem uma postura que, longe de ser alienada, era uma forma de contestação ao sistema. Era uma forma de se manter em movimento, agir.[*20]

Mesmo “Paisagem na janela” (Lô/F. Brant), considerada apenas uma canção “pop” (“Da janela lateral/do quarto de dormir”), dentro do contexto temático do álbum, embora mostre coisas aparentemente normais (“vejo uma igreja, um sinal de glória/vejo um muro branco e um vôo pássaro/vejo uma grade, um velho sinal”), na exposição de “cores mórbidas, homens sórdidos, temporal, cemitérios e velórios” pode revelar:

[...]a paisagem densa e triste reinante, apesar da insistência do destinatário da canção em não querer acreditar no que está acontecendo no país (reparar a repetição do verso ‘Você não quer acreditar’). ‘Mas isso é tão normal’ não acreditar que a realidade política seja essa: o regime caça, prende, tortura, mata e existem vários cavaleiros marginais fugindo ‘sem querer descanso nem dominical’.[*21]

Ainda nessa postura contracultural, colhe-se que (fora do padrão mercadológico do poder espetacular difuso) tudo começou com a ideia de Milton Nascimento de fazer o primeiro álbum duplo do Brasil [*22] , tanto que “estava disposto a quebrar o contrato e procurar outra gravadora”, se não fosse aceito. Sem contar que “queria dividir os créditos do LP com um rapaz desconhecido, um rapazote. Ainda por cima com um nome pouco sugestivo: Lô”.[*23] Foi uma “das mais delirantes pré-produções de disco já feita na história fonográfica nacional. Para felicidade e júbilo da MPB, eles fizeram tudo ‘errado’”.[*24]

Sobre a capa, sem o nome dos artistas, o fotógrafo Cafi conta que o disco tinha uma característica que fazia realmente contraponto ao preciosismo plástico: “Tinha uma relação de Milton com Lô na capa, mas nem era essa a intenção. Era mesmo uma coisa de arame farpado, de estrada, de mineiridade”.[*25]

A ideia inicial, de se fotografar muita gente e incluir todas elas no disco, foi preservada na contracapa, com o retrato de Milton e Lô numa rua, em meio a crianças e jovens, e na parte interna da capa dupla do álbum, em forma de mosaico. Não deixa de revelar uma postura segundo a qual o artista não se distingue das demais pessoas, como um sujeito comum que atua na sociedade.

Quase todas as 21 músicas, com dois temas instrumentais, inclusive, foram feitas em parcerias, numa conjunção de influências individuais. Como uma obra coletiva, durante as gravações, como se vê na ficha técnica, os músicos se revezaram informalmente em vários instrumentos. Beto Guedes e Toninho Horta, por exemplo, tocam baixo, violão, guitarra, percussão e cantam. O próprio Milton toca piano e violão além de cantar e Lô canta, toca violão, piano, guitarra e percussão. As orquestrações são de Eumir Deodato e Wagner Tiso, com regência de Paulo Moura.

A unidade conceitual, num elenco de músicas fortes, que só fazem sentido dentro de seu encadeamento preciso, com temas incidentais em forma de intertextualidade, é atribuída a Ronaldo Bastos.[*26] Isso também nega seu consumo fácil e sua fragmentação em termos mercadológicos. Na época, até mesmo o tempo de duração de algumas faixas (“Estrelas” tem vinte e sete segundos e “Dos cruces” tem cinco minutos e dezoito segundos) quebrava o padrão comercial que girava em torno de três e quatro minutos compatíveis com a radiodifusão.

Dentre outras inovações musicais, restritas às já citadas canções, em “Tudo o que você podia ser”, há o uso do falsete por Milton ao final da canção, não como um recurso para alcançar notas mais altas, mas como linguagem. É uma inovação estética que se incorporará no estilo vocal dele e de outros artistas mineiros, como Beto Guedes e Flávio Venturini. Em “Cais”, nota-se que a tensão criada na última frase musical tem a resolução fortalecida por um corte que introduz um tema independente e marcante com canto e piano. A contribuição estética está em que o instrumental, também protagonista, passa a ser mais que um simples acompanhamento da voz do cantor.

Não se pode esquecer “O trem azul” (Lô/R. Bastos), uma das mais conhecidas do disco (“Coisas que a gente se esquece de dizer/Frases que o vento vem as vezes me lembrar/Coisas que ficaram muito tempo por dizer/Na canção do vento não se cansam de voar/Você pega o trem azul, o Sol na cabeça/O Sol pega o trem azul, você na cabeça/Um sol na cabeça”), que revelou o estilo de tocar guitarra de Toninho Horta, e “Um girassol da cor de seu cabelo” (Lô/M. Borges), com sons oníricos e letra surrealista (“Vento solar e estrelas do mar/Um girassol da cor de seu cabelo...O meu pensamento tem a cor de seu vestido/Ou um girassol que tem a cor de seu cabelo?”), que nasceu um clássico.

Ivan Vilela discorre que Milton inaugura uma nova forma de utilização do violão, como um instrumento ao mesmo tempo harmônico, arrítmico e de cordas percussivas, diferentemente dos padrões rítmicos binários, ternários e quaternários, desenvolve músicas em compassos quinários (em cinco tempos), além de trabalhar com compassos híbridos (pulsações diferentes numa mesma música).[*27]

De modo geral, diz ainda esse autor que, com os músicos do Clube da Esquina: é estabelecida uma ponte não só com os irmãos latino-americanos de língua espanhola, mas um resgate com uma África ‘mineira’; a percussão passa a ter um papel de solista concorrente ao melopoema (o resultado da melodia e letra, a canção) – são os primeiros a colocar, em algumas canções, a percussão com um volume maior que a própria voz; cria-se uma sonoridade característica em que os instrumentos, combinados, constroem mais do que um simples acompanhamento da canção - uma ambiência da qual a canção passa a fazer parte junto de eventos sonoros distintos que acontecem ao mesmo tempo; tem-se uma fusão do regional com o “pop” e o “rock” amalgamando os gêneros e estilos; tem-se uma sonoridade orquestral própria que diferia da forma como a Bossa Nova utilizava a orquestra, mais como uma moldura sonora, e da forma como a Tropicália também a utilizou, de forma mais narrativa - uma orquestração de caráter mais impressionista, criadora de ambiências sonoras, e que às vezes corre à parte do evento musical que se apresenta; a voz deixa de ser apenas o elemento que canta os melopoemas e passa a ser um instrumento que canta sem letra, que produz sons pouco usuais – o falsete, longe de ser um último recurso, torna-se alternativa tímbrica; constata-se uma proposta inusitada de dividir o panorama de escuta do som estereofônico de forma não equitativamente balanceada.[*28]

Apesar de as críticas inicialmente terem sido desfavoráveis ao disco[*29] , o álbum colaborou para uma nova forma de composição na MPB:

O compositor popular passou a operar criticamente no processo de composição, fazendo uso da metalinguagem, da intertextualidade... E ao estender a atitude crítica para além dos aspectos formais da canção, o compositor popular tornou-se um pensador da cultura...Os ritmos variados e letras que celebravam recantos de Minas evocavam um certo clima contracultural e ao mesmo tempo protestavam contra o momento político opressor que o país atravessava. Em 1972, o álbum duplo ‘Clube da Esquina’ consolidou a importância dessa vertente da MPB.[*30]

Considerações finais

Este artigo versou sobre a sociedade brasileira contemporânea, numa investigação de seu processo histórico na perspectiva da Sociedade do Espetáculo, quanto à aplicação dos conceitos de Guy Debord sobre as formas de poder espetacular concentrado e difuso, ao assumirem uma feição mista no período do regime militar dos “anos de chumbo” e do “milagre brasileiro”, entre 1969 e 1974, tendo por objeto de análise o álbum duplo Clube da Esquina, de 1972, como produção cultural de resistência a esse estado de coisas.

Da concepção da capa à composição e disposição das canções, com suas referências intertextuais, por força da unidade conceitual, ousadia musical, variedade rítmica e experimentação incomum, destoantes do padrão mercadológico de então, como um marco na produção fonográfica brasileira, o álbum foi inovador na MPB. As letras das canções em geral revelaram ainda uma inclinação a construções mais abstratas, com imagens ou metáforas, em relação ao que era utilizado na época.

A temática política esteve presente, pois não se pode negar que os letristas se puseram contra o sistema repressivo de então, numa unidade também temática: a “noite” estabelecida pelo AI-5 e o sonho (o “sol”) de um futuro melhor (o “amanhã”), alimentado pela viagem do “pé na/pó da” estrada ou da “invenção” subjetiva. Enfim, a resistência à ditadura e o comportamento contracultural.

Referências bibliográficas

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Em memória de Flávio Henrique Fabiano, querido amigo, artista e exemplo de vida. Felizmente nossos caminhos foram cruzados quando o momento político do país já era outro do aqui versado.
Mestre em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero (FCSCL), na qual é Membro do Grupo de Pesquisa Comunicação e Sociedade do Espetáculo. Mestre em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
COELHO, Cláudio Novaes Pinto. A indústria cultural, a publicidade e a consolidação da hegemonia burguesa no Brasil. Communicare, v. 4, n. 2. São Paulo: Cásper Líbero, 2004. p. 32-34.
Pensador mais influente da Internacional Situacionista, movimento cuja atuação foi marcante para os acontecimentos de maio de 1968.
Para a teoria crítica, é um conceito histórico e corresponde a uma fase específica da sociedade capitalista, quando há uma interdependência entre o processo de acúmulo de capital e o processo de acúmulo de imagens.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. p. 43.
COELHO, Cláudio Novaes Pinto. A indústria cultural, a publicidade e a consolidação da hegemonia burguesa no Brasil. Communicare, v. 4, n. 2. São Paulo: Cásper Líbero, 2004. p. 32-34.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. p. 44.
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CALDAS, Waldenyr. Iniciação à música popular brasileira. Barueri: Manole, 2010. p. 84-85.
Em alusão ao cruzamento das ruas Divinópolis e Paraisópolis, no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte/MG, onde Lô Borges e outros adolescentes da rua costumavam vadiar e tocar violão. BORGES, Márcio. Os sonhos não envelhecem: Histórias do Clube da Esquina. São Paulo: Geração Editorial, 1996. p. 167.
MELLO, Zuza Homem de & SEVERIANO, Jairo. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras. V. 2: 1958-1985. São Paulo: 34, 1998. p. 176.
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“Nuvem Cigana” é o nome de um grupo artístico (multicultural: música, literatura, em especial poesia e performances poéticas, arte gráfica etc.), do qual Ronaldo Bastos e Cafi fizeram parte naquele período no Rio de Janeiro, caracterizado pelo trabalho coletivo e conceitual (VIEIRA, Francisco Carlos Soares Fernandes. Pelas esquinas dos anos 70: utopia e poesia no Clube da Esquina. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Letras/UFRJ, 1998. p. 71-75.).
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VIEIRA, Francisco Carlos Soares Fernandes. Pelas esquinas dos anos 70: utopia e poesia no Clube da Esquina. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Letras/UFRJ, 1998. p. 86.
Gal Costa acabou lançando antes, “Fatal”, em 1971.
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