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Imagens de uma época
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Gripe espanhola na Capital Federal

O último ano da Primeira Grande Guerra Mundial enfrentou um inimigo que atacava em todas as frentes: em 1918 começou a pandemia da gripe espanhola, que matou cerca de 20 milhões de pessoas em todo o mundo. Acredita-se que uma das formas pela qual a doença chegou ao Brasil foi através de marinheiros que prestavam serviço militar na África e desembarcaram doentes em Recife. Os primeiros casos foram reconhecidos em setembro de 1918, e logo a doença estava espalhada por grande parte do território, chegando a São Paulo e a então Capital Federal (Rio de Janeiro). Mas esse não foi o único modo de contágio, já que a imigração no período da guerra foi intenso e diversos portos do Brasil receberam doentes. Assim sendo, as cidades portuárias foram as mais atingidas pela pandemia.

O Rio de Janeiro registrou cerca de 15 mil mortes e viveu dias de pânico e abandono no final do ano de 1918. A cobertura da Revista Careta sobre a doença na Capital Federal começou branda em setembro de 1918, com charges que ironizavam a doença, especialmente pelo seu nome “feminino” – “quem me dera estar com espanhola” era o título de uma charge que apresentava a ilustração de dois cavalheiros vendo passar uma bela moça. A cobertura muda na edição do mês seguinte, já que em outubro já se registrava um elevado número de mortes, que causava impressão forte, pois a doença dominava o infectado rapidamente, levando-o ao óbito. Essa característica, no entanto, foi a tônica da cobertura não somente de revistas, mas também dos jornais no Rio de Janeiro, que só passaram a acreditar na magnitude da pandemia quando ela começou a causar mortes no Brasil. E também o posicionamento do Governo e das autoridades médicas brasileiras, que apontavam que o país passava por um surto de influenza benigna, não de influenza espanhola. Na metade de outubro de 1918, quando os hospitais veem o número de doentes internados subir às dezenas de milhares por dia, é dado o alerta da pandemia. Mas já era tarde. Os doentes puderam circular por todo o país, ficar em aglomerações, fazendo com que o vírus já estivesse bastante disseminado e instalado no país.

Estima-se que 65% da população do Rio de Janeiro adoeceu, no entanto a maior parcela de óbitos foi registrada entre a parte mais pobre da população, já que com a doença e o pânico social comerciantes e farmacêuticos aumentaram os preços às alturas, além de terem fechado as portas ao fim dos seus estoques. Juntando a falta de alimentação com as precárias condições de saneamento e higiene nos bairros pobres e morros da cidade, a doença, além de se espalhar mais, se tornou potencialmente mais letal. No dia 19 de outubro de 1918 nenhum serviço funcionava na Capital Federal, estando ela completamente deserta. A grande crise enfrentada foi atender a demanda de sepultamentos: cadáveres se acumulavam nas ruas, nos hospitais e nos cemitérios. O Governo não dava conta do recolhimento dos corpos, e a Santa Casa, que detinha a exclusividade dos serviços funerários, era acusada de cobrar fortunas para enterrar pessoas em covas coletivas. Os coveiros também entraram em greve, reivindicando reajuste de salário. Desta forma, o exército assumiu os cemitérios e obrigou presos (alguns casos falam inclusive de trabalhadores sequestrados) a sepultarem os mortos. A epidemia foi declarada como superada na cidade no final de outubro de 1918, apesar de mortes continuarem ocorrendo.

Nesta edição de “Imagens de uma época”, apresentamos algumas imagens da cobertura da Revista Careta sobre a pandemia no Rio de Janeiro. Vários aspectos do impacto da pandemia na cidade são retratados, possibilitando vislumbrar os significados posteriores que a doença deixou na cidade.

Referências:

BRITO, Nara Azevedo de. La dansarina : a gripe espanhola e o cotidiano na cidade do Rio de Janeiro. História, Ciências e Saúde-Manguinhos [online]. 1997, v. 4, n. 1, p. 11-30. ISSN 0104-5970.

BASTIDE, Roger. A imprensa negra do Estado São Paulo. In: ______. Estudos Afro-Brasileiros. São Paulo: Perspectiva, 1973.